
Como realizamos masterizações quase todos os dias, fica mais fácil escrever sobre alguns dos aspectos comuns para nós mas pouco comuns para quem não está familiarizado com o tema!
Para além de ser a última fase de pós produção de uma música, ep ou álbum, é também a fase onde tudo bem ou mal pode acontecer antes de chegar às mãos dos artistas ou bandas, que vão pegar no que enviamos e fazem upload para as plataformas de streaming e agora cada vez mais para a fábrica de duplicação de cds.
São tantas as vezes que ouvimos que, algumas misturas soam melhor que a masterização feita, que o cuidado que temos de ter é muitas vezes de uma forma pensada e cada vez mais sentida. Temos de conseguir manter a essência musical que ouvimos na mistura mas criando a perspectiva comercial do volume perfeito, a dinâmica musical e coloração que pensamos ser o ideal para ter o maior impacto para quem vai ouvir a música que temos em mãos.
Certamente estas 15 próximas dicas vão dar-te uma perspectiva mais precisa de como encaramos todos os dias a masterização nos Sound Pressure Studios e ajudar-te a compreender o nosso trabalho e até quem sabe experimentares tu próprio nas tuas próximas produções musicais.
Menos é Mais
Explícito o suficiente para entenderes, o que fazemos na masterização é na maioria das vezes muito pouco.
Por exemplo, por vezes abrimos apenas a zona frequencial mais aguda um dB, ou atenuamos a zona mais grave se estiver demasiado proeminente.
Adicionar através da subtração – sabemos que ao atenuar algumas frequências dominantes vai acentuar outras normalmente na zona mais grave. Temos de ser prudentes e ouvir, com a boa escuta que temos e decidir com muito conforto que o que estamos a fazer, por menos que seja é o que a música precisa para ganhar algum equilíbrio.
A Mistura Perfeita
Costumamos dizer aos nossos clientes que devem misturar a sua música até ficar perfeita para eles. Não lhes dizemos como misturar pois a maioria sabe usar compressão de uma forma perfeita.
Mas costumamos dizer que não devem usar limitadores nas suas misturas se tencionam enviar para nós para masterizar e se mesmo assim o limitador que estão a usar no master stereo buss é essencial para eles sentirem a mistura perfeita, então referimos que devem enviar as duas versões: uma com o limitador e outra sem o limitador.
Ouvir o Bottom End
Entre os 80Hz e os 120Hz é onde o fundamental dos graves estão localizados, com instrumentos predomindantes nesta área como o baixo e o bombo de uma bateria. A nossa sala traduz na perfeição estes graves. Caso não seja este o vosso caso, cuidado com o bottom end pois em demasia vai tornar a vossa música mais pequena e menos consistente.
O Essencial é Ouvir
Não existem regras! Usamos por vezes 5 a 6 dB de equalização em várias zonas frequênciais, e até em músicas de artistas mainstream. Basta ouvir e se necessitar, é equalizar. Não olhamos para os knobs de equalizadores de masterização e seguimos as regras que eles tentam passar, mas sim, se ouvirmos que está a necessitar de um boost em determinada frequência, é usar e assunto encerrado.
Sample Rate? Pouco Importante!
Recebemos projectos em vários sample rate, e o que podemos dizer quanto a isto, é que é muito pouco importante.
Seja a 16 ou a 24 bit, a 44.1 kHz ou a 96 kHz, uma boa mistura será sempre uma boa mistura, dependendo do sample rate usado. O sample rate não vai salvar uma má mistura.
Para além disso, todas as masterizações são convertidas com a regra do redbook que é de 16 bit a 44.1 kHz e também a 24 bit a 44.1 kHz para o mundo do streaming (plataformas digitais como o spotify).
Limita o Quanto Baste
Usamos apenas uma mão cheia de limitadores, dependendo do estilo musical e até da dinâmica da mistura que é apresentada na música.
Normalmente começamos por usar um ataque lento (200ms) com um recovery de 0.1 a .25!
O ataque lento ajuda a passar os transientes das músicas e para além de não esmagar muito a música, vai dar-lhe uma dimensão muito maior.
O Som da Fita – Irresistível
O som da fita é algo que é irresistível e podemos até dizer que é o compressor mais simples que há, basta pressionar o botão – play.
A velocidade e a largura da fita usada faz uma diferença brutal, como também a redução do ruído de fundo, mas no final de contas é aquele som característico da fita que conta, que é importante e que sabe tão bem ouvir. As músicas ficam maiores, mais largas sem mexer no equilibrio da música. Consegue também suavizar os agudos mais estridentes.
Visualizar o Espectro, Sempre
Sim, também visualizamos quase sempre o que está a acontecer frequencialmente, isto para além de ouvir dá-nos uma perspectiva mais apurada do que estamos a ouvir e a sentir. Existem vários analisadores de espectro no mercado, contudo usamos apenas 2 a 3 como o da Waves e o da RND.
Uma coisa que temos de salientar é que este aspecto visual não pode influenciar o que estamos a ouvir. O que ouvimos é o que vai prevalecer na análise. Por isso no analisador até pode estar com picos indesejáveis mas se soar bem… nem pensamos em mexer!
Processamento M/S
Normalmente não usamos qualquer processamento M/S, pois vai mexer com a imagem da mistura de uma forma que por vezes pode ser radical e indesejável. Neste caso, quando encontramos problemas de posicionamento e de imagem na mistura que vamos masterizar, há que dar um passo atrás, rever a mistura em estúdio ou com o cliente e não usar o processamento M/S!
Monitorizar
Para além de usares os teus monitores principais, deves sempre ouvir a masterização concluída em outros sets de monitores, speakers de hifi, e até em headphones! Assim terás a certeza do que se está a passar e como a tua masterização responde no vários sets usados.
Acústica e os seus Problemas
Os problemas que normalmente encontramos ao ouvir algumas misturas é o low end estar demasiado evidente e a ocupar a dinâmica musical de uma forma muito pouco equilibrada.
Agora adiciona outro problema, que é masterizar uma música num local onde a resposta acústica é pobre e os graves estão de alguma descontrolados. Estamos assim a juntar dois problemas que vão resolvidos com muita dificuldade.
A acústica onde a mistura e masterização vai ser feita é tão importante quanto quem a vai fazer como também que material seja analógico como digital vai ser usado para processar o sinal.
A nossa sala tem uma acústica perfeita para ambas as situações, contudo, uma grande parte do trabalho misturado que chega até nós para ser masterizado tem de ser corrigido, principalmente devido ao excesso de graves.
Faz Pausas
As pausas são tão importantes quanto todo o trabalho que se desenvolve em estúdio.
A recomendação que fazemos é que em cada hora de trabalho deves fazer um pausa.
Monitorizar a que Volume?
Não deves usar a tua monição num volume muito alto. Começa por masterizar com volumes baixos e aumenta o volume de vez em quando para verificares como se está a comportar os agudos e os graves em volumes mais altos.
Quão Alto deve estar a Música Masterizada?
Normalmente, as misturas que chegam até nós ou até as nossas misturas têm uma compressão profissional no master stereo buss, comprimindo o suficiente para que a música soe bem e com a sua própria dinâmica musical.
Nunca devem enviar para a masterização, músicas em fase de mistura que estejam já esmagadas ou sem dinâmica musical pois vai limitar o trabalho que é feito na masterização.
Desta forma, com misturas que soem bem, com dinâmica, com a sua coloração e profundidade bem definidas, há que manter toda esta imagem sonora e conseguir aumentar o volume sem sentir qualquer distorção, seja harmônica, seja linear.
Quando nos pedem que pretendem a sua música num volume bem alto, por vezes estupidamente alta, nós dizemos muito simplesmente que: não recomendamos.
Frequências Fundamentais
Há zonas frequenciais que são importantes em qualquer tipo de música, primeiro porque somos muito sensíveis e em segundo lugar porque fazem com que as músicas ganhem uma nova vida.
Por exemplo, entre os 800 Hz e os 3 kHz é uma zona importantíssima. Mas tens de ter algum cuidado, pois pode tornar a música muito estridente.
Quanto aos graves, tens de ir pelo ‘feeling’. Normalmente entre os 50 Hz e os 120 Hz é onde está o sumo da alma da música, mas tens também de ter monitores que consigam traduzir esta zona de uma forma muito consistente e coesa, pois se excitares esta zona em demasia vais diminuir a dinâmica musical e tornar a música muito pequena.
Quanto aos agudos, estes são muito subjectivos. Há quem goste de música muito brilhante, outros detestam. Também depende dos estilos musicais. Normalmente seguimos as indicações dos nossos clientes.
Como Excitar uma Música?
Normalmente concentramos as nossas atenções na zona dos médios pois muito da energia que dá ‘drive’ às músicas estão situadas entre os 3 kHz e os 8 kHz! Se focares as tuas atenções dentro desta zona, vais conseguir dar emoção e energia à música, mas com este reparo: segue os teus ouvidos.
O Mais Importante ao Masterizar
Dar demasiada importância ao material e software que tens em estúdio para masterizar é um erro tremendo.
A nossa atenção tem de estar concentrada no estúdio e a sua acústica, os monitores e na experiência que o engenheiro de masterização tem. Temos bom material para masterizar e a maior parte neste momento são plugins que conseguem emular o material analógico de uma forma espectacular.
Deves então ouvir as referências musicais que tens para determinado trabalho e seguir a partir daí para conseguires dar a vibe e energia certa às músicas que estás a masterizar!