
TÚ ÉS UM INSTRUMENTO DE SOPRO
Sabias que tens um instrumento de sopro dentro do teu corpo?
Ao usar o ar e os teus músculos, o som é produzido quando levas o ar até às cordas vocais que vibram e esta vibração vai bater na cavidade toráxica, boca, faringe, cavidade nasal e na tua cabeça criando uma ressonância.
Para conseguires cantar corretamente, o controle da respiração é muito importante. Ao respirares fundo até ao diafragma e encher o peito de ar, crias uma bolsa de ar que vai alimentar o mecanismo que cria o som, e conforme vais expirando, largando controladamente o ar, consegues criar o tom preciso que queres cantar.
Caso não tenhas o controle deste mecanismo, vais conseguir cantar em esforço, seja a puxar o ar para fora ou então esforçando a tua garganta. Isto vai criar um desgaste rápido e doloroso e podes inclusive criar problemas futuros quando usares em esforço a tua garganta de uma repetitiva.
Por isso, o primeiro passo para aprenderes a cantar é aprenderes a dominar a tua respiração até ao diafragma.
O segundo passo é conseguires controlar a expiração deste ar para criar a ressonância que pretendes.
O SEGREDO ESTÁ NA RESPIRAÇÃO
Quando estamos em estúdio, dizemos ao cantor(a) que se quiser um som pequeno, então que respire pouco e ao de leve, e se quiser um som grande e projectado que respire bem fundo.
Mas respirar fundo por vezes é contraproducente pois o que se deve fazer é conseguir controlar o ar que vai ser preciso para determinada vogal, palavra ou frase e isso leva tempo!
Este controle de respiração e do diafragma que vai empurrar o ar mas sem criar tensão é a forma correcta de se cantar, expandindo a caixa torácica e activando o diafragma que vai expirar o ar controladamente para que não gastes o ar logo na primeira ou primeiras notas.
Esta parte básica é muitas vezes descurada mesmo por bons professores de canto. Mas quando dominares a tua respiração, vai conseguir dar o suporte à tua voz e ao teu canto de uma forma natural.
EXERCÍCIOS E BOAS PRÁTICAS DE RESPIRAÇÃO
Há diferentes exercícios de como aprender e praticar os vários tipos de respiração, e muitas vezes no nosso estúdio tentamos ensinar as várias técnicas para conseguir dominar e interpretar uma nota, palavra ou frase necessária para o registo que se pretende.
Aqui vão alguns factos e dois exercícios de respiração que deves ter em mente no futuro para conseguires controlar a tua respiração e o acto de cantar.
1. RESPIRAÇÃO DE DIAFRAGMA
Primeiro deves estar confortável, ter uma roupa que não te prenda os movimentos torácicos, nem da barriga e até dos membro superiores.
A postura, os níveis de stress e até a tua condição física devem ser motivos de preocupação quando estás com o objectivo de praticar e aplicar esta técnica.
A respiração de diafragma é também conhecida como respiração abdominal.
Consiste em usar o diafragma (que fica localizado por baixo dos teus pulmões) de forma a saturar os pulmões com oxigênio. Em efeitos práticos é usar a barriga para expirar o máximo de ar que conseguires.
Ao inspirares, puxas a barriga para fora e ao expirares puxas a barriga para dentro.
- Começa por colocar uma mão na barriga e outra no peito.
- Inspira lentamente pelo nariz e puxa a barriga para fora até teres os pulmões cheios de ar. Nota que o teu peito deve permanecer quieto e sem movimento.
- Expira com os lábio semicerrados contraindo os músculos da zona abdominal até os pulmões ficarem vazios.
- Repete este exercício 5 a 10 minutos todos os dias 3 a 4 vezes ao dia.
Caso desconheças ou nunca tenhas aplicado esta técnica de respiração, vai sentir algum desconforto e esforço físico, mas não te preocupes pois o teu diafragma vai ficando mais forte cada vez que fizeres este exercício diário, que após estar consciente em ti, vai ser fácil aplicar quando fores cantar.
Quando exemplificamos esta técnica, perguntam-nos de imediato se não é esta a técnica que usamos para respirar? Não, infelizmente não é a técnica que mais usamos. É sim a respiração de peito que infelizmente é o hábito que a provoca e que faz dela a nossa respiração habitual. Aquela sensação ofegante ou de ansiedade é provocada na maioria das vezes por causa desta técnica de respiração.
A respiração de diafragma deve ser usada com alguma regularidade diariamente pois para além de fornecer naturalmente o ar necessário para conseguires cantar de uma forma controlada e menos esforçada tem também outros benefícios ao longo do tempo:
- Ajuda-te a relaxar
- Ajuda na recuperação do esforço físico
- Ajuda na manter os níveis de glucose no sangue
- Ajuda a fazer a digestão alimentar
- Fortalece os pulmões
2. RESISTÊNCIA E SUSPENSÃO
Quem canta pensa que ao controlar o movimento do seu diafragma consegue também um controlo perfeito de respiração, e desta forma ter uma respiração perfeita para ter a resistência e suspensão sempre que é necessária. O que a maioria não sabe é que a respiração de diafragma é passiva durante a expiração. O diafragma fica activo durante a inspiração de ar provocando uma expansão dos pulmões que ficam cheios de ar quando usas a respiração de diafragma, contudo quando fazes a expiração do ar o diafragma é um músculo passivo.
A expiração é sim controlada por todos os músculos que são usados para movimentar o ar que tens nos pulmões – os músculos que tens entre as costelas (músculos intercostais), os músculos que tens na partes laterais (músculos oblíquos), pelas tuas costas e pelos teus abdominais.
Aprender a controlar estes músculos é primário para conseguires controla a expiração necessária para conseguires cantar longas frases ou fazer vocalizos.
O teu corpo está programado para inspirares e expirares de uma forma rápida, por isso vais ter de aprender a resistir ao normal funcionamento do teu corpo enquanto cantas. Esta resistência é uma coisa boa. É algo que vais utilizar para criar ainda mais resistência corporal, com movimentos lentos e controlados.
Uma das formas de explorar a expiração e resistência é prender o ar nos pulmões. O teu corpo diz-te que logo após teres inspirado quer expirar o ar, tu fazes o contrário, prendendo o ar nos pulmões. Parece que o tempo pára! Estás pronto para fazer a expiração, mas os músculos não se mexem.
Esta suspensão é que chamamos resistência. O teu corpo quer expulsar o ar dos pulmões mas tu resistes até conseguires manter o máximo de tempo possível o ar nos pulmões antes de fazeres qualquer movimento de expiração.
Isto não significa tensão, mas sim mais uma hesitação. Tenta e sente o teu corpo a abrir enquanto inspiras e prendes o ar nos teus pulmões.
Pratica o seguinte exercício, inspirando ar com a técnica de respiração de diafragma e prende o ar até contares até 5 e depois expira com a mesma técnica. O objectivo não é resistir o máximo tempo possível mas sim perceberes a sensação de resistência que tu tens de fazer e controlar.
Se fizeres este exercício com regularidade vais aprender e controlar os músculos que suspendem a expiração natural.
-
- Inspira até contares até 3
- Suspende a respiração até contares até 5
- Expira o ar até contares até 3
Enquanto suspendes o ar nos pulmões, toma atenção ao teu corpo. Ele quer expirar, mas tu controlas o corpo suspendendo o ar mantendo o corpo aberto.
Para ganhares mais controlo e resistência, conforme vais fazendo este exercício, vais aumentando a contagem para números maiores. Vais ver que mais cedo ou mais tarde o teu corpo vai ajustando a resistência e a respiração vai ficando até mais lenta.
Conforme vais ganhando mais resistência e controlo, ao expirares se contares até 1 ou até 10, os músculos que controlam a expiração vão se adaptando cada vez mais de uma forma natural.
Faz isto 5 a 6 vezes por dia e devagar vai aumentado a contagem conforme os dias vão passando. Lembra-te que deves fazer o exercício de uma forma lenta e calma para que tu sintas o teu corpo, os teus músculos e percebas como tens e deves de controlar o teu corpo.