MASTERIZAR AS TUAS PRÓPRIAS MÚSICAS – SIM, É POSSÍVEL, MAS…
Muitos entusiastas de estúdios caseiros esperam terminar suas produções fazendo sua própria masterização. No entanto, poucos parecem alcançar os resultados elegantes que procuram. Realisticamente, o que é que podes conseguir quando és tu a fazer o processo de masterização, e que técnicas garantem os melhores resultados?
Neste primeiro de dois posts, vou falar sobre o que é a masterização e, assim por alto, o processo de masterização que deves aplicar às tuas futuras músicas se quiseres ser tu a tratar delas. No segundo post, terás uma explicação mais detalhada sobre como fazer a masterização das tuas músicas, inclusive a abordagem ao vinil!
Vamos lá falar sobre isto tudo…
A VERDADE? NÃO ESTÁ NAS FERRAMENTAS – ESTÁ NOS OUVIDOS
Antes da revolução digital, a masterização tinha um conjunto bastante definido de funções. Levavas as tuas misturas acabadas em tape (fita, adat ou dat) para um engenheiro de masterização, que depois muitas vezes as metia noutra tape através de vários processadores de sinal concebidos para melhorar o som. De seguida, as músicas eram ordenadas como pretendido e eram feitos test pressings de acetato para avaliar o produto final antes do álbum sair para produção em massa.
A masterização era encarada quase como uma arte secular e mística. Poucos músicos tinham acesso às melhores e mais caras ferramentas para fazer masterização, nem possuíam a experiência de ter ouvido milhares de gravações e saber como prepará-las para o mundo real.
Hoje em dia, as ferramentas para uma masterização de qualidade estão finalmente ao alcance financeiro e técnico de qualquer pessoa dedicada à engenharia de som e produção. Mas 95% da masterização não está nas ferramentas – está nos ouvidos. Se não tiveres ouvidos de um engenheiro de masterização, os plugins não te ajudarão muito. Além disso, recorrer a um engenheiro de masterização passa muitas vezes por ter ouvidos objetivos, que identificam quaisquer alterações necessárias antes do lançamento.
E SERÁ QUE NÃO PODES SER TU A MASTERIZAR?
Só os especialistas é que devem tratar da masterização? Não. Primeiro, nem todas as situações de masterização exigem a intervenção dum profissional. Se calhar, tens uma gravação ao vivo que só queres dar aos teus amigos ou vender em concertos.
Claro, podes simplesmente duplicar as misturas, mas uma finalização no processo de mistura garante uma melhor experiência para quem ouve. Ou talvez tenhas gravado várias músicas e queres testar como elas encaixam num álbum.
Porque não seres tu a masterizar? Depois de teres decidido a ordem e afins, podes sempre apresentar as misturas individuais a um engenheiro de masterização profissional. E, quando o fizeres, poderás falar com ele sobre o que queres em termos mais qualificados, pois estás mais familiarizado com o processo, e já terás ouvido o teu trabalho com a masterização em mente.
DAWS DE MASTERIZAÇÃO
A maior parte das masterizações é feita em software especializado para a edição digital de áudio, como o Presonus Studio One (que usamos nos Sound Pressure Studios), o Steinberg Wavelab (costumava ser usado nos últimos anos – mas foi posto de lado), o Sequoia, o Pyramix, etc. São facilmente navegáveis, têm a capacidade de fazer zoom nas formas de ondas, ferramentas de lápis para cliques, e plugins para tarefas de masterização (juntamente com a possibilidade de usar plugins criados por terceiros).
Mas, se não tiveres grandes exigências, há várias formas de masterizar com programas convencionais de gravação multitrack. Curiosamente, alguns até fazem truques que os típicos editores digitais de áudio não conseguem.
PROCESSO DE MASTERIZAÇÃO
O processo de masterização deve começar sempre com a mistura. Afinal, existem vários passos durante a mistura que facilitam a masterização.Deves cumpri-los quer planeies tratar da masterização sozinho ou entregar o teu projeto a um engenheiro.
Se gravaste a tua música em áudio de alta resolução, mistura-a na forma de ficheiros de alta resolução. Mantém a resolução mais elevada durante todo o processo de masterização e desce no final para 16 bits se estiveres prestes a criar os CDs. Não faças misturas individuais e não adiciones quaisquer fades ao misturar – fades e crossfades são usados na masterização, quando tiveres uma melhor noção do tempo ideal para o fade.
Em relação a cortar o início e o fim das faixas, há músicas onde se calhar é melhor ter algum ruído entre cortes em vez de silêncio total, ou então podes deixar alguns milissegundos de espaço antecipado antes da primeira nota. Isto evitar uma transição demasiado brusca entre o silêncio e a música.
Outra coisa a ponderar é a eventual necessidade de reduzir o ruído. Por vezes, podes ouvir um ligeiro assobio, um zumbido, ou outro ruído constante num nível muito baixo. Se conseguires obter uma amostra limpa deste som, podes colocá-la num plugin de redução de ruído que subtrai matematicamente esse ruído da faixa. Mesmo que este barulho seja bastante baixo, removê-lo pode melhorar o som de forma subtil, abrindo o nível de som e melhorando a separação stereo.
Não faças qualquer processamento à mistura geral (normalmente apelidamo-la de master stereo buss), limita isso aos canais individuais.
É a masterização que trata do processamento das misturas completas.
Ao misturares, deves também estar atento à distorção – alguns overloads podem não ser audíveis na mistura, mas tornam-se evidentes se adicionares EQ ou um limitador na masterização. O melhor é deixares alguns decibéis (pelo menos -3db) de headroom em vez correres o risco de provocar distorção.
Acrescentar normalização não é propriamente boa ideia, pois isso significa outra fase de DSP (o que pode piorar o som, ainda que ligeiramente) – e depois podes precisar de alterar o nível geral quando juntares todas as misturas no álbum final.
Por último, faz sempre backup aos teus ficheiros originais misturados antes de os masterizares.masterizar quanto possível. Se a música tiver de ser remasterizada mais tarde por qualquer razão – uma reedição em alta resolução, uma compilação, ou qualquer outra finalidade -, vais querer uma mistura que seja tão fácil de re
MONO! VERIFICA SEMPRE A TUA MISTURA EM MONO!
Como aviso final, muda a saída da master buss para mono e garante que não há qualquer enfraquecimento ou diluição do som.
Na fase de masterização, pouco podes fazer para corrigir isto; terás de voltar à mistura e analisar as pistas individuais para encontrares o problema. Normalmente isto acontece quando os efeitos alteram a fase para criar uma banda stereo superampla, mas também pode haver problemas ao micar um instrumento com dois microfones a distâncias diferentes da fonte. Podes sempre tentar inverter a fase de um canal e, se isso corrigir os problemas de fase, excelente.
Mas é pouco provável. Seja como for, não te esqueças de alterar o bussing novamente para stereo quando exportares o ficheiro ou gravares um CD!
E A MASTERIZAÇÃO EM TEMPO REAL DURANTE A MISTURA?
O processo de mistura já é suficientemente assustador sem a masterização; ainda assim, tratares da masterização enquanto misturas permite-te saber exatamente como vai soar a versão final.
Mas lembra-te que, por norma, a masterização depende de alguém que diga objetivamente o que precisa de ser feito com a tua música. A menos que essa pessoa se possa sentar na mistura e ajustar os processadores de masterização, o melhor é dar-lhe os teus ficheiros e alguma liberdade para fazer o seu trabalho corretamente.
Se decidires masterizar enquanto misturas, tens de colocar os teus processadores de masterização no buss de saída master stereo. Quando crias um projeto multitrack não-surround, todas as pistas acabam por ser metidas num misturador para um buss de saída master stereo. Tal como nos canais individuais, isto deverá permitir adicionar efeitos de plugin.
Outra coisa a ponderar é a eventual necessidade de reduzir o ruído. Por vezes, podes ouvir um ligeiro assobio, um zumbido, ou outro ruído constante num nível muito baixo. Se conseguires obter uma amostra limpa deste som, podes colocá-la num plugin de redução de ruído que subtrai matematicamente esse ruído da faixa. Mesmo que este barulho seja bastante baixo, removê-lo pode melhorar o som de forma subtil, abrindo o nível de som e melhorando a separação stereo.
Quando os teus efeitos de plugin tiverem sido adicionados e editados como pretendido, tens três opções principais para criar um ficheiro masterizado:
Mundo Digital – Faz a renderização (também conhecida como bounce ou exportação) da faixa para o disco rígido. Isto lê o sinal na saída final, incluindo os resultados de quaisquer efeitos adicionados, e grava o ficheiro no disco rígido. Esta é a tua pista final já masterizada.
À Velha Guarda – Envia a saída para um CD ou gravador de DAT autónomo. Isto vai gravar a música final masterizada, mas, mais uma vez, precises de organizar as coisas se tiveres várias canções.
Utilizar as Ferramentas Outboard – Envia a saída através de processadores de masterização analógicos, grava as saídas destas em duas pistas vazias na tua multitrack, e depois exporta essas pistas para o teu disco rígido.
MASTERIZAR ENQUANTO MISTURAS, MAS SEM REALMENTE MASTERIZARES
Existe outra técnica que estabelece um compromisso entre masterizar à medida que misturas e masterizar offline.
Depois de masterizares uma músca, por vezes pode sentir que deverias tê-la misturado de forma diferente, porque a masterização revela alguns elementos menos evidentes durante a mistura. Por exemplo, na fase de masterização, é normal notarmos que a mistura muda subtilmente, o que exige voltar atrás para um ‘remix’ rápido (outra razão pela qual a automação da mistura é tão útil). Por isso, para criares uma mistura mais virada para a masterização, adiciona alguma compressão e EQ geral (por norma, mais ‘ar’ na zona mais aguda e alguns ajustes no baixo) ao buss master stereo criar um som mais ‘masterizado’.
Mistura a música enquanto monitorizas a situação com estes processadores. Depois, antes de renderizares e guardas o ficheiro, faz bypass aos efeitos de masterização que utilizaste.
Assim, terás uma mistura em bruto que podes masterizar num programa separado (ou dar a um engenheiro de masterização), que antecipa o uso de processadores de masterização sem incorporar os efeitos destes no ficheiro. Se fizeres isto, mantém sempre os níveis otimizados ao removeres os processadores – poderás ter de afinar o nível geral.
Se pretendes recorrer a um engenheiro de masterização, não te sintas tentado a mostrar-lhe uma mistura ‘pré-masterizada’, onde tenhas tentado levar o som para onde queres. Dá-lhe sempre a mistura em bruto, de duas pistas (ou surround), sem efeitos de masterização. Mas vale sempre a pena criar uma versão separada da música que use os efeitos de masterização para dar ao engenheiro uma ideia do tipo de som de que gostas. Depois disso, o engenheiro pode tentar traduzir as tuas ideias para algo melhor, tendo em conta ao mesmo tempo os teus desejos.
No próximo post sobre masterização, vou detalhar o processo de masterização, a abordagem certa para masterizar um projeto inteiro, como um EP ou um álbum, a masterização de vinil e os níveis standard usados na atual música mainstream.
És tu quem trata da masterização das tuas próprias canções? Fá-lo nos comentários que nós vamos gostar de saber.